terça-feira, 16 de janeiro de 2018

"Para quem entrega os pontos como pessoa, por não mais conseguir apoiar-se num alvo futuro, a forma de vida interior no campo de concentração acaba desembocando numa forma de existência retrospectiva... Ela se presta para depreciação do presente com seus horrores. Ocorre, porém, que a depreciação do presente, da realidade circundante, implica certo perigo. Isso porque podem ser facilmente esquecidas as possibilidades de influência criativa sobre a realidade, as quais não deixam de existir também no campo de concentração, como ficou demonstrado em diversos exemplos heróicos. A desvalorização total da realidade, oriunda da forma provisória de existência do recluso, acaba seduzindo a pessoa a entregar os pontos completamente, a abandonar-se a si mesma, visto que de qualquer forma "tudo está perdido". Essas pessoas estão se esquecendo de que, muitas vezes, é justamente uma situação exterior extremamente difícil que dá à pessoa a oportunidade de crescer interiormente para além de si mesma. Em vez de transformar as dificuldades externas da vida no campo de concentração numa prova de sua força interna, elas não levam a sério a existência atual e depreciam-na para algo sem real valor. Preferem fechar-se a essa realidade, ocupando-se apenas com a vida passada."

Frankl V E. (1905-1997), 2017. Em busca de um sentido, pg. 95 e 96, 42ª ed., Editora Vozes.

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