Índia com sua marca cultural, faz referência aos Karajás. Reza a lenda, que são olhos de sabedoria.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
sábado, 6 de janeiro de 2018
domingo, 31 de dezembro de 2017
Karajás 05
Logo nos primeiros dias encontrei esse inã. Destoava dos outros por carregar em sua testa uma ferida.
Não quis ser invasiva ao demonstrar minha curiosidade sobre o que havia acontecido, pois em meio aos seus, vivia sem incômodo.
Os dias se passaram, até que me aproximei de seu rosto e notei que havia uma sutura com fio de nylon, mal cicatrizada.
Perguntei como ele havia feito aquele "curativo", e timidamente respondeu que foram os médicos da última missão.
Logo me dei conta, que a última equipe voluntária, havia passado ali há três meses, em média.
Perguntei se poderia remover aquele fio, e ele aceitou, sem medo algum. Geralmente são crianças muito valentes.
Enquanto o fazia, notei leve sangramento nas bordas e pus, sujeito a contaminação externa. Sentia dor em se queixar.
Meu segundo estigma rompido, relacionou-se à atuação do voluntariado. Notei que não basta ter boas intenções, é necessário ousar com sabedoria.
Aquele granuloma se iniciou por iatrogenia, e ao meu ver, não era passível de cicatrização, a menos com cirurgia estética reparadora.
A disponibilidade de avaliação em quadros pós operatórios são desafios aos médicos e dentistas em missões de curto prazo.
Problemática: até que ponto vale a pena intervir na medicalização desses indivíduos ? Qual a maneira mais apropriada de atingi-los através da prevenção ?
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Karajás 04
Estar defronte a Aldeia de Macaúba, fez-me romper muitos estigmas, os quais me pareceram tapados e desatualizados por uma vida inteira.
O primeiro deles, foi a decepção em encontrá-los com roupas de algodão e poliéster. Senti que enfrentei um luto com a imagem construída a seu respeito dentro de mim.
Onde estavam os cocares, as penas, as folhas, as tranças, os colares, as saias de palha?
Tantas vezes observei essas meninas em meio ao meu mais sincero silêncio.
Não sabia se podia me sentir triste por estarem com vestimentas parecidas com as minhas.
Sei que fiquei, e parece que estou assim até hoje, enquanto revivo esta fotografia. Confesso que não sei me conformar com esse severo impacto que a cultura indígena sofreu e vem sofrendo, desde a colonização do Brasil. Até que ponto isso foi evitável?
Questionei-me acerca da essência carregada em seus traços genéticos, sendo invadidos por costumes que nunca foram os seus.
Sua beleza raiz, de cabelos negros ("nos ombros caídos") e lisos, repartidos ao meio e com franja, sorriso largo, olhos puxados, pele morena, ausência de curvas... não combinavam com roupas. E nunca vão combinar, ao menos não na minha mente.
Problemáticas me apareceram, o cerne de toda missão bem vivida.
Se eu não queria que se parecessem com os brancos, o que eu estava fazendo ali ? Eu e minha equipe éramos inocentes ao imaginar a dimensão deste impacto a longo prazo ? Como dimensionar seus pontos positivos e negativos?
Independente da raça, cor ou etnia, somos tanto influentes, como influenciáveis.
Ainda que se levem décadas, centenas de anos. A mistura ocorrerá. Afinal, nada muda do dia para a noite.
Cheguei a breve conclusão de que ser voluntária naquele contexto, era "tentar" tapar os buracos de uma influência que os enfraqueceu ao longo desses anos.
Senti-os debilitados e reféns de uma convivência que nunca pediram para ter (ou pediram ?).
Debilitados, no sentido de possuírem muitos deficits (cultural, emocional, educacional, e de saúde).
Reféns, por se verem em condições de implorarem por cuidados do governo, prantearem por suas terras, por seus direitos indígenas, por sua própria história.
Estavam muito bem ali, vivendo de sua caça, de sua natureza, de seu sangue.
Ora brancos... por quê?
Se um dia fomos evitáveis, hoje fazemo-nos inevitáveis.
Como eu poderia ser útil, adequá-los diante da realidade existente, minimizar suas cicatrizes, e ainda tentar preservar os traços de sua cultura sem moldá-los, ainda que inconscientemente, à minha?
Isso é missão. Adaptabilidade, história, perguntas sem respostas, vivências.
#missão #mission #volunteer #voluntário#sus #governo #saudemental #mistura#missigenação #indígena #índio#rioaraguaia #tocantins #ilhadobananal#aldeiaindigena #aldeiamacaúba #branco#roupa #estilo #fashion #deficit #refém#problema #problemática #dúvida#change #changetheworld #etnia
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Karajás 03
Cheguei ao meu destino. O sorriso dos índios, ou inãs, como conhecidos em sua cultura Karajá.
Ficamos acomodados na cidade de Santa Teresinha (TO), na divisa com o Pará. Em sua simplicidade, se faz banhada pelo rio Araguaia, que dá acesso ao território onde os índios brasileiros residem, a Ilha do Bananal.
Senti-me desafiada ao adentrar em local completamente desconhecido. Além de fazer parte de uma equipe que conhecia há poucos dias, não sabia exatamente como unir aquelas pessoas e a Odontologia, a parte que me foi designada, visto que não havia estrutura alguma destinada ao projeto que desenvolveríamos naqueles dias.
Como na foto, era de passível percepção a ausência de higiene bucal daqueles indivíduos aos quais estava exposta. Grande responsabilidade, sensação de impotência e revolta com a saúde pública.
A cultura da aldeia estava missigenada com os homens brancos, e sua alimentação também.
Além dos recursos naturais que o local oferecia, comiam bolacha recheada e salgadinho. Em sua inocência, acreditavam que seriam bem nutridos desta forma.
No entanto, além da precariedade da saúde bucal, apresentavam desnutrição, dst, problemas ginecológicos e de saúde mental, dependência química, dentre outros. Haviam histórias de suicídio acometendo jovens e adultos naquelas aldeias. (Irei abordar esses assuntos nas próximas postagens)
Cabia-me desenvolver um trabalho de transformação. Diante das limitações impostas, como eu iria desempenhar isso ?
Certifiquei-me de que a mudança começava em mim, à medida que me permitia conhecer suas histórias.
#missão #mission #volunteer #voluntário#karajás #tocantins #rioaraguaia #índio#inã #Pará #odontologia
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
Karajás 02
O curso de nossa viagem seguiu Brasilsão adentro.
Da janela do ônibus avistei essas casinhas no meio do nada.
Algo me impressionou nesta imagem, e talvez eu tenha entendido a partir deste momento, a importância de estar em campo missionário.
Vamos aonde não existem cuidados primários de saúde, educação, ou mesmo, alimentação.
Viajamos 2 dias e 2 noites, e dezenas desses pequenos vilarejos existem na beira das estradas, muito longe de grandes centros e/ou capitais. Preocupava-me a maneira como eram esquecidos pelos cantos do estado, e a ausência de cuidado que apresentavam diante das adversidades que a vida propunha.
Não conseguia associar o motivo pelo qual haviam tantos talentos escondidos naquelas terras, onde não seriam nunca lapidados.
Quais eram suas conquistas ? Guardavam sonhos dentro de seus corações ?
Estava ali para descobrir tais questionamentos.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Karajás 01
Era junho de 2011. Eu havia me formado em Odontologia há 3 anos, e ainda me questionava se havia escolhido a profissão certa.
Nasci e cresci sabendo que preferia tomar injeção do que remédio, então alguma serventia isso teria na escolha de minha futura profissão. Desde pequena gostava de ambientes hospitalares, onde a vida parecia frágil.
Não sentia aflição ou fraqueza em contextos assim, apenas a ânsia em fazer algo para que aliviasse aquele quadro de pesar.
Foi assim que sempre carreguei em meu coração o desejo em participar de missões, só não sabia quando e nem como isso se concretizaria em minha vida, mas a Odontologia me abriu as portas.
Esta foto, é do Brasilsão adentro. Paisagem que apenas me era real em filmes do sertão nordestino, ou livros que li pro vestibular.
O sol estava se pondo, e eu corri do posto aonde nosso ônibus estava estacionado, até o meio da pista para notificar a tal realidade.
Estou aqui mesmo ? Na hora me pareceu algo surreal e que nem precisava de filtro, e hoje contemplo a veracidade deste fato.
Gosto dessa memória árida. Havia por detrás das lentes uma menina curiosa e destemida para o que haveria de vir.
Dias novos me aguardavam.
#missão #mission #volunteer #voluntário#Bahia #sertãonordestino #pôrdosol#estrada #karajás
Nasci e cresci sabendo que preferia tomar injeção do que remédio, então alguma serventia isso teria na escolha de minha futura profissão. Desde pequena gostava de ambientes hospitalares, onde a vida parecia frágil.
Não sentia aflição ou fraqueza em contextos assim, apenas a ânsia em fazer algo para que aliviasse aquele quadro de pesar.
Foi assim que sempre carreguei em meu coração o desejo em participar de missões, só não sabia quando e nem como isso se concretizaria em minha vida, mas a Odontologia me abriu as portas.
Esta foto, é do Brasilsão adentro. Paisagem que apenas me era real em filmes do sertão nordestino, ou livros que li pro vestibular.
O sol estava se pondo, e eu corri do posto aonde nosso ônibus estava estacionado, até o meio da pista para notificar a tal realidade.
Estou aqui mesmo ? Na hora me pareceu algo surreal e que nem precisava de filtro, e hoje contemplo a veracidade deste fato.
Gosto dessa memória árida. Havia por detrás das lentes uma menina curiosa e destemida para o que haveria de vir.
Dias novos me aguardavam.
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