sábado, 15 de fevereiro de 2025

Insuficiência da psiquiatria x psicologia

Os fármacos têm sua importância, mas, não articulam a existência. A existência não é determinação causal. A causa, vem do pensamento cartesiano de Renè Descartes (a medicina é cartesiana, pois valoriza a análise lógica e o método científico para entender o indivíduo). Enquanto psicóloga trabalho com a insuficiência da psiquiatria. 

Na psicologia:

Entendo que a psicoterapia existencial trabalha com o conteúdo e o acontecimento. Pergunto uma, duas, três e muitas mais situações em que isso se apresenta, de maneira que o modo do indivíduo se relacionar, muda. É na relação psicoterapêutica que o caminho aparece.

Culpa: qual é o débito mais originário? do que você se arrepende?

Depressão: é desistência, denuncia o tédio. O que o tédio tem a te dizer?

Ansiedade: insistência excessiva. Do que você está cansado?

Queixa: compreender o que está em questão pela arte do bem perguntar (desde quando, em que situação, como as pessoas lidam com isso... guiar a pessoa ao autoconhecimento, a coisa precisa se apresentar a ela).

Psicose e Sonhos: desespero de imaginário por carência de real (Kierkegaard), assim como o caçador de borboletas que se perde na floresta e não sabe retornar, pois se perde no real.  O conteúdo do delírio é muito importante para exploração.

Transtorno: não passa pelo torno, tentar parafusar e não conseguir tornar mais (duvido que a psiquiatria não pensa na anormalidade...)

Medo e Fobias: tentativa de controlar toda possibilidade de finitude. Nesse ponto, entendo que na luta contra a finitude sempre sairemos como perdedores, isso é existencial.

Desespero
: querer o que não posso ter, isso é existencial.

O que temes?
Como temes?
Para que temes?

Ex: Fibromialgia = forma: conteúdo: dor. A dor serve para que? (atenção)

Cuido do conteúdo que se apresenta nessa condição orgânica e que sempre se repete. O que está em jogo nessa queixa que a pessoa traz?

Patologia:
  • É o estudo das doenças, suas causas (etiologia), mecanismos (patogênese), alterações estruturais (morfologia) e as consequências funcionais dessas alterações.
  • No contexto clínico, também pode se referir a qualquer condição anormal ou disfunção no organismo.
  • Exemplo: A patologia do Alzheimer envolve a degeneração dos neurônios no cérebro.

Transtorno:
  • Efeito de uma relação com o mundo.
  • Refere-se a uma condição que altera o funcionamento normal de uma pessoa, seja no aspecto mental, emocional ou físico.
  • Geralmente não envolve alterações estruturais identificáveis, mas relacionadas ao comportamento, pensamentos ou emoções e não leva a morbidade.
  • É mais comum em diagnósticos psiquiátricos e psicológicos.
  • Exemplo: Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno Depressivo Major.

Doença:

  • É uma condição de saúde com causas conhecidas, sintomas específicos e alterações estruturais ou funcionais detectáveis ​​no corpo.
  • Pode afetar órgãos, tecidos ou sistemas inteiros, levando a morte.
  • Exemplo: Diabetes Mellitus, pneumonia

Síndrome

  •  É um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem juntos e caracterizam uma condição clínica específica, mas que nem sempre têm uma causa claramente definida.
  • Pode resultar de várias causas subjacentes. Ela descreve um padrão reconhecível de manifestações, ajudando no diagnóstico e tratamento, mesmo quando a origem exata não é totalmente conhecida.
  • Exemplo: A Síndrome de Down é caracterizada por um conjunto de características físicas e cognitivas causadas por uma anomalia genética (trissomia do cromossomo 21).

Obs: As definições acima nos levam a compreender que a psiquiatria dedica-se a transtornos, não a doenças. Do ponto de vista biológico, os comportamentos e conjunto de características resumidos no DSM-V não levam a morbidade e sua medicalização não promove cura (Lívia Longo).

Pinel e a humanização de pacientes psiquiátricos

Philippe Pinel (1745-1826) foi um médico francês considerado um dos fundadores da psiquiatria moderna. Ele é conhecido principalmente por ter humanizado o tratamento de pessoas com transtornos mentais. Antes de Pinel, os pacientes psiquiátricos eram frequentemente acorrentados e tratados como criminosos.

Ao se tornar diretor do asilo de Bicêtre, em Paris, Pinel tentou remover as correntes dos pacientes, promovendo um ambiente mais humano e respeitoso. Ele acreditava que as doenças mentais tinham causas naturais (como condições médicas e ambientais) e não eram possessões demoníacas ou punições divinas, como visto na cultura da época.

Pinel também enfatizou a importância da observação clínica cuidadosa, da escuta ativa, que incluía diálogo, atividades ocupacionais e estímulos sociais para ajudar na recuperação dos pacientes. Sua abordagem foi revolucionária.

A importância do Cuidar e não do curar

Vivemos em uma sociedade que valoriza soluções rápidas e definitivas. A busca pela cura, muitas vezes, reflete esse desejo de resolver problemas de maneira imediata e definitiva. No entanto, quando falamos de saúde mental e bem-estar emocional, é essencial compreender que nem tudo precisa ser “curado”. Muitas experiências humanas não são doenças a serem eliminadas, mas vivências a serem acolhidas e compreendidas.

A abordagem do cuidado vai além de aliviar sintomas; ela se concentra em acolher a pessoa em sua humanidade, acompanhando suas dores, mas também suas forças, histórias e potencialidades. Cuidar é estar presente, oferecer suporte e criar um espaço seguro onde a pessoa se sinta vista.

No contexto da psicologia fenomenológico-existencial, o cuidado é central. Essa abordagem não busca “consertar” o indivíduo, mas acompanhá-lo na jornada de compreensão de si mesmo e de suas experiências. O foco é permitir que uma pessoa atribua compreensão às suas vivências e encontre recursos internos para lidar com seus desafios.

Faz sentido?

"Sinto, logo existo." Soren Kierkegaard
Lívia Longo | Psicóloga Clínica
CRP 06/168309

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Remediar o irremediável

A aprovação na entrevista não veio, o relacionamento amoroso acabou, a nota na prova não foi suficiente, a conta chegou no vermelho, o resultado daquele exame foi negativo, o corpo adoeceu. 

O tempo, segue infalível. Você, não. 

O coração está quebrantado. Essa experiência te atravessou de modo doloroso demais para ser verdade. 

Somos feitos de antagonismos intermináveis.

Não existe começo sem fim, nem fim sem começo.

O mesmo se dá para o irremediável. 

Como lidar com as más notícias?

Você já não é mais a mesma pessoa...

Isso é remediável.

"Sinto, logo existo." Soren Kierkegaard
Lívia Longo | Psicóloga
CRP 06/168309



Quando nada acontece

    Entendo que vivemos em um momento de falsas convicções. Achamos que temos o domínio do tempo, do outro, das possibilidades e até de si mesmo enquanto ser ideal. Quando nada acontece, tendemos ao desespero, ao vazio, à plena consciência da falta de controle, à angústia do esperar. 

    A verdade é que a liberdade humana é condicionada a fatores existenciais. Muitas vezes, esquecemos das nossas limitações e custa render-se à elas. Essa necessidade de urgência diante de uma resposta ou do incontrolável, mostra o quão necessitados somos das certezas plenas, mostra a falta. 

    Na tentativa de ter poder, tende-se a aumentar a ansiedade, a compulsão, os rituais e "tocs" Em contrapartida, procuramos cura a médica para tais sintomas, sem antes compreender o seu fundamento. O que eu tenho tentado controlar? Quais situações ou fontes me levam a um lugar de comparação inatingível? Isso tem a ver com a minha própria história? 

    Gosto da ideia de Marcos Almeida e talvez de outros autores, que diz: "esperar é caminhar"; ou, "é na caminhada que se encontra o caminho." Se a resposta não veio, é porque ela não veio. O caminhar nos adverte do respiro, das possibilidades, do aqui-agora - que na realidade, é a única coisa que temos

    Diante do nada, eu tenho o tempo presente ao meu dispor. Como posso vivê-lo de maneira perene?

"Sinto, logo existo." Soren Kierkegaard
Lívia Longo | Psicóloga
CRP 06/168309

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Relações e o tempo

    Desde a infância até a velhice, conhecemos tantas pessoas. Alguns fazem parte da nossa vida durante o período escolar, na turma do balé ou na rua em que moramos. Outros, conhecemos na faculdade, no ambiente de trabalho ou religioso. A verdade, é que elas podem nos marcar de maneira muito positiva. A convivência era gostosa, leve. As personalidades e temperamentos marcantes, ofereciam conforto só por estarem ali, pertinho da gente, dividindo bons momentos.

    Sinto muita saudade das relações que tive e que as circunstâncias da vida acabaram por nos distanciar. Seja pelas mudanças de cidade, encerramento de ciclos estudantis, profissionais, virtuais, dentre outros.

    O tempo é um fator existencial marcado pelas (im)permanências. As transformações influenciam diretamente o ambiente, a coletividade, o nosso eu. Por isso, entendo que a minha saudade, muitas vezes, têm hora marcada para acontecer. Sei, notoriamente, que aquele encontro é finito, então, prevendo sua interrupção, o vivo de maneira intensa, presente. E quando, no futuro, esbarro com a saudade que previ, sinto memórias incríveis, pois existi. 

Almas sensíveis compreendem as mudanças e o fim. Gosto de ser assim.

Insuficiência da psiquiatria x psicologia

Os fármacos têm sua importância, mas, não articulam a existência. A existência não é determinação causal. A causa, vem do pensamento cartesi...