domingo, 31 de dezembro de 2017

Karajás 05

Logo nos primeiros dias encontrei esse inã. Destoava dos outros por carregar em sua testa uma ferida. 
Não quis ser invasiva ao demonstrar minha curiosidade sobre o que havia acontecido, pois em meio aos seus, vivia sem incômodo.
Os dias se passaram, até que me aproximei de seu rosto e notei que havia uma sutura com fio de nylon, mal cicatrizada. 
Perguntei como ele havia feito aquele "curativo", e timidamente respondeu que foram os médicos da última missão.
 Logo me dei conta, que a última equipe voluntária, havia passado ali há três meses, em média. 
Perguntei se poderia remover aquele fio, e ele aceitou, sem medo algum. Geralmente são crianças muito valentes.
Enquanto o fazia, notei leve sangramento nas bordas e pus, sujeito a contaminação externa. Sentia dor em se queixar. 
Meu segundo estigma rompido, relacionou-se à atuação do voluntariado. Notei que não basta ter boas intenções, é necessário ousar com sabedoria. 
Aquele granuloma se iniciou por iatrogenia, e ao meu ver, não era passível de cicatrização, a menos com cirurgia estética reparadora.
A disponibilidade de avaliação em quadros pós operatórios são desafios aos médicos e dentistas em missões de curto prazo.
Problemática: até que ponto vale a pena intervir na medicalização desses indivíduos ? Qual a maneira mais apropriada de atingi-los através da prevenção ?


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