terça-feira, 6 de agosto de 2019

Logoterapia e Espiritualidade

O suprasentido é o horizonte para o qual aponta a transcendência originária de todo ser-homem, o Tu eterno presente relacionalmente a toda pessoa espiritual. Ao se deslocar de todo habitat natural, ao destacar-se de todo meio que o condicionasse a partir de sua dimensão anímica, o ser espiritual estranha a si mesmo, questiona a si mesmo, duvida de seu próprio fundamento. De sua dúvida, ele direciona-se para o absoluto. Geralmente, de acordo com Frankl (1946/1989), o sentido último é desdobrado quando as pessoas encontram-se no final de suas vidas, e a religião é entendida, nesta concepção, como uma forma do homem tentar direcionar-se para este sentido último, que também se mostra como único, singular e relativo a cada pessoa na vivência particular de sua existência (Scheler, 1928/2003; Frankl, 1978/2005).

Portanto, a religiosidade teria, para Frankl (1948/2007), um papel de orientar o direcionamento do homem para seu sentido ultimo, porém, sempre que os valores, costumes, morais e institucionalizações das religiões e igrejas se imporem a frente da relação vivencial e genuína da pessoa espiritual com o absoluto, mais objetivante, "coisificante" e distante da relação ontológica com o sagrado tal religiosidade se apresentará.

A religiosidade... Só é genuína quando existencial, quando a pessoa não é impelida para ela, mas se decide por ela... A religiosidade verdadeira, para que seja existencial, deve ser dado o tempo necessário para que possa brotar espontaneamente (Frankl, 1948/2007, p. 69).

Contudo, a espiritualidade caracterizaria a dimensão eminentemente humana e existencial, aberta e transcendente, que se constitui como consciência e responsabilidade. Esta dimensão relaciona-se com a totalidade, tomando-a enquanto horizonte. Apontando para o absoluto, a relação espiritual originária com o sagrado, essa linguagem que expressa a relação do Eu com o Tu eterno, é o que Frankl entende por religiosidade. Poderia, sinteticamente, ser colocada a espiritualidade como a dimensão propriamente humana que se abre para o mundo e a religiosidade como a qualidade do espírito que está em relação com a totalidade, constituindo-se como a palavra dirigida ao absoluto. Nesse sentido, a espiritualidade e a religiosidade tornam-se questões reconhecidamente humanas para a Análise Existencial e para a Logoterapia, não se constituindo como epifenômenos resultantes de fantasiais ou de projeções do homem para reconfortar a existência, pressuposta sem sentido. Pelo contrário, a relação com a instância do absoluto abre-se como uma categoria ontológica da antropologia frankliana, e é exatamente por um viés filosófico e psicológico que tal diá-logo é reconhecido e possibilitado. Retomando a compreensão de supra-sentido, Frankl (1948/2007) entende que a vontade humana não só por um sentido concreto, mas também por um sentido último, constitui-se como a fé religiosa, a fé no supersentido. Logo, a vontade de sentido último, em si, já demonstra a expressão da religiosidade no homem, do direcionamento espiritual para o absoluto.  

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